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Trapalhada na Europa transforma Dante em boa opção para Mano

Christof Stache/AFP
Zagueiro quase jogou pela Bélgica, e torce para ser lembrado pelo técnico da seleção brasileira

Publicada no R7 em 09/08/2011

Desconhecido no Brasil, o zagueiro Dante faz sucesso na Alemanha, com a camisa do Borussia Moenchengladbach, e espera um dia repetir o feito do compatriota Luiz Gustavo, que nesta quarta-feira (10) pode fazer sua estreia pela seleção brasileira no amistoso contra a Alemanha, em Stuttgart. 

Aos 27 anos, ele vive na Europa desde 2004, quando deixou o Juventude, que à época ainda estava na Série A do Brasileiro, para jogar no Lille, da França. Depois de dois anos, foi para a Bélgica, onde se destacou no modesto Charleroi e se transferiu para o Standard Liège, um dos principais clubes do país. Depois de uma trapalhada na hora de se tornar belga, ele aparece como boa opção para Mano Menezes.

No meio do processo para se naturalizar, à espera de uma chance na seleção da Bélgica, ele deixou o país e foi jogar no Borussia Moenchengladbach, clube alemão de nome complicado e muita tradição, dono de cinco títulos alemães e duas vezes campeão da Copa da Uefa, torneio sucedido pela Liga Europa.

No domingo (7), seu time surpreendeu e venceu o favorito Bayern de Munique por 1 a 0, na primeira rodada do Campeonato Alemão, e Dante se deu bem diante de jogadores importantes e que devem estar em campo contra o Brasil, como o atacante Thomas Muller e Toni Kroos. 

Em entrevista exclusiva ao R7, Dante fala um pouco de sua carreira e do sonho de, um dia, como Luiz Gustavo, ser uma surpresa com a camisa do Brasil. 

Você foi para a Europa com 20 anos. Porque você resolveu sair tão cedo do Brasil? Todo jogador sonha em jogar na Europa. A oportunidade apareceu cedo para mim e resolvi aproveitar, não quis esperar uma segunda chance. Eu sabia que não seria o ideal porque eu era muito jovem, mas não tinha tempo a perder. 

Você se arrepende? Não, foi um grande aprendizado. Foi complicadíssimo no início porque eu não falava nada de francês e estava sozinho na França. Eu aprendi bastante. Eu jogava no Juventude, um clube que não tem tanta expressão no Brasil e aproveitei a primeira chance que pintou. Não me arrependo de nada, sou bem satisfeito com a decisão que tomei. Hoje eu estou colhendo os frutos porque vim para a Europa muito cedo. 

Muitos jogadores dizem que chegam sozinhos nos países. Como foi sua história quando chegou à França? Rapaz, foi bem difícil. Eu viajei sozinho, nem o empresário que fez a negociação veio comigo. Aliás, essa é uma história engraçada. Ele disse que teria uma pessoa me esperando no aeroporto, mas eu cheguei lá e não tinha ninguém. Eu fiquei esperando umas cinco horas lá, sozinho, só com US$ 100 no bolso. Eu não sabia o que fazer. Depois de umas duas horas eu fui trocar meu dinheiro por euro e, nem sei como, consegui comprar um cartão telefônico. Eu não sabia nem ligar para o Brasil, mas dei um jeito e consegui falar com o empresário, que me disse que o cara tinha ido embora. Foi uma loucura. Só que eu comecei cedo a fazer o curso de francês e aprendi muito rápido, até por causa da dificuldade. Mas foi uma guerra. 

Quanto tempo demorou para você se sentir melhor na França? Eu demorei uns seis, oito meses para me sentir melhor aqui, mais bem ambientado. É sempre difícil deixar o seu país tão cedo e ir para um lugar estranho, onde você não conhece a cultura. A culinária é totalmente diferente também. 

O fato de a comida ser diferente realmente atrapalha? (Risos) Não, a verdade é que jogador de futebol é mal acostumado. A gente quer tudo e na hora em que a gente quer. Quando não tem um feijão na mesa e gente já fica chateado. Eu acho que depende de onde você está. Para quem joga na China ou no Japão é muito diferente é complicado. Mas na França, Itália, Alemanha, a não ser que você caia em uma cidade muito pequena, onde tem muita comida típica forte, é tranqüilo. Em todos os clubes em que eu joguei, todos os clubes oferecem massa, salada, carne grelhada e acabou. 

Depois da convocação do Luiz Gustavo, você tem esperança de ser convocado pelo Mano, já que é titular no seu clube? É claro que eu sempre sonho, mesmo sabendo que eu sou pouco conhecido no Brasil. Mas eu estou jogando um campeonato muito difícil, com grande jogadores do futebol mundial. No domingo mesmo eu joguei contra Ribéry (francês), Robben (holandês), Schweinsteiger (alemão), entre outros, e eu estou no meio desses caras. Então mesmo sabendo que estou em um time que não tem muita expressão, eu sou um cara que sempre pensa positivo. Mesmo sabendo que os objetivos são complicados, eu não desisto e espero ser chamado um dia. 

E como você viu a convocação do Luiz Gustavo? Ele vem jogando bem já faz um tempo, desde a época do Hoffenheim. Ele já jogou de zagueiro, lateral-esquerdo, volante, que é a posição predileta dele. É um jogador que vem bem, mas é pouco conhecido no Brasil e acaba se tornando uma incógnita. Aqui também me falam: “Pô, Dante, acho que você poderia ter uma oportunidade”. Mas a gente sabe que no Brasil tem muitos jogadores de qualidade, e fica difícil de o treinador tentar algo. É mais fácil ele pegar um jogador que joga em time grande, está em evidência. 

Mas o treinador da Alemanha deve te conhecer. Já pintou algum convite para defender a seleção alemã? Acho que seria possível se eu estivesse na Alemanha há mais tempo. Mas estou aqui há quase três anos e para poder jogar em uma outra seleção acho que você tem que ficar pelo menos cinco anos no país. Como na Bélgica, onde eu fiquei três anos e recebi o convite para jogar pela seleção. O técnico foi ver o meu jogo, falou que contava comigo, mas eu não consegui tirar o passaporte. 

O que aconteceu? Dante - Foi até falta de sorte. A partir de três anos você já pode pedir o passaporte. Eu fiz o pedido, mas quando o pessoal foi avaliar a minha situação eu não estava mais no país, aí eles deram como caso perdido. Mesmo guardando uma moradia lá, se você não declara seus impostos no país, não recebe nada lá, fica mais complicado. Mesmo assim a Federação Belga propôs a me ajudar, colocou advogados. Tem gente hoje que pensa que eu sou belga. Já recebi proposta de time inglês e tive que explicar que não poderia aceitar porque não tenho passaporte europeu. Foi uma pena, porque foi por pouco. Era um bom caminho. 

Mudando de assunto, você vê muita diferença no treinamento que os jogadores têm no Brasil e o da Europa? No Brasil a gente tem um número maior de treinos semanais, vários dias em dois períodos. Mas aqui o treino é mais curto e muito mais intensivo. Fora que aqui eles cobram 100% de concentração a cada treino, tem que levar as coisas a sério mesmo. Até sinto falta do Brasil, que tem treino recreativo antes dos jogos, o goleiro vai para a linha, o atacante acaba no gol. Isso é a melhor coisa que existe e aqui não tem. Antes do jogo aqui é duelo, pegada forte e acabou. São coisas bem diferentes.

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